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Arrebol: a busca pela arte em sua potência máxima 

22/12/2023

Dança, música e audiovisual se encontram nas figuras de Isabela dos Santos, Francisco William e Vitor Grilo, nome artístico de Vitor Mesquita, por meio do projeto Arrebol. Nos Laboratórios de Pesquisa 2023, da Escola de Cultura e Artes do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), embora inscrito como um projeto do Laboratório de Dança, o grupo desenvolveu um trabalho que entrelaça as três linguagens artísticas às quais cada integrante pertence.

Isabela dos Santos, 26, dança desde os 8 anos de idade e desenvolveu o Arrebol como projeto de TCC, trabalho de conclusão do curso, no curso técnico que fez em Produção Cultural. No entanto, a pesquisa ficou reservada à produção teórica. No Laboratório de Pesquisa de Dança, Arrebol integrou o audiovisual e cumpriu uma jornada de experimentações para desenvolver um projeto de três linguagens que dialogam entre si.

Com uma rabeca em mãos, instrumento sobre o qual pesquisa desde a graduação, William, 29, se predispôs ao desafio de dançar pela primeira vez. Ao lado de Isabela, ele busca guiar a música pelo movimento do corpo da bailarina, colocando, como ele mesmo define, “a música em função do corpo”, invertendo o processo mais comum de junção dessas duas linguagens.

Quando Vitor Grilo, 39, entra na equação, já para o processo de pesquisa do Laboratório, o audiovisual agrega ao projeto novas camadas e alcança novas formas de fazer música e dança, conforme conta Isabela dos Santos. Para ela, foi justamente a maior possibilidade de experimentação que fez o processo no CCBJ ser proveitoso e se destacar entre suas outras experiências na área da pesquisa.

Em um mundo saturado de imagens, como não estragar a estética minimalista, já desenvolvida por William e Isabela, ao adicionar o audiovisual? Esse foi o questionamento que pairou sobre a cabeça de Grilo e seus companheiros de pesquisa. Na experimentação, eles encontraram respostas: a superação da tela.

Como produto final apresentado na Partilha final dos Laboratórios de Pesquisa, o grupo desenvolveu uma projeção mapeada que provoca a sensação de que o espaço dança junto de Isabela e de William. A técnica, conhecida como video mapping, era estudada e foi levada ao grupo por Vitor Grilo, possibilitando a projeção de imagens em qualquer superfície. “É como se o espaço dançasse junto com a gente”, afirma Isabela.

Assim como o espaço, a rabeca nordestina, instrumento sobre o qual William começou a pesquisar na sua licenciatura em Música, possibilita o movimento do corpo do instrumentista e também abre espaço para um “caminho novo para fazer música e abre margem para a criação”, considera William. 

O projeto de pesquisa de Isabela, Grilo e William se difere dos demais nos Laboratórios de Pesquisa 2023 devido à prioridade e preferência pela experimentação, possibilitada pela metodologia da Escola de Cultura e Artes do CCBJ. “A gente foi partindo da nossa bagagem”, afirma Grilo, pontuando a construção do projeto a partir da troca entre ele e seus companheiros de pesquisa.

Pesquisa como experimentação e troca

Colocando a “investigação em função da realização”, como define Vitor Grilo, o grupo conseguiu chegar a novas conjunções. Mesmo da relação nada extraordinária entre música e dança, surgiram novos elementos a partir do processo de pesquisa do Arrebol. Isabela, que tem uma longa caminhada na dança, não sentia que a música era integrada à linguagem. O projeto, de certo modo, também é fruto de experiências nem tão positivas.

“Sempre dava algum erro na trilha sonora”, conta, referindo-se às suas experiências passadas. Por isso mesmo, ela queria a música como parte do processo, não como um elemento que meramente acompanha sua expressão artística principal – a dança. E, assim, a figura do músico deixa de funcionar como se fosse “parte do cenário”. A rabeca, então, é um instrumento que, conforme explica William, colabora para a movimentação do instrumentista e tem forte relação com a dança por ser pequeno e funcionar como extensão do corpo.

Além de propor uma nova forma de conexão entre música e dança, quando o audiovisual é adicionado ao processo artístico e de experimentação do grupo, a primeira linguagem ganha capacidades a mais, como a de criar “ondas sonoras como forma de projetar cores e formas”, de acordo com William. Além do corpo, ele conta que a luz e o cenário também indicam a linguagem e a escala musical.

A ideia, para Vitor Grilo, é que uma linguagem não se sujeite à outra. O pesquisador pondera que as políticas públicas operam sob a individualização das linguagens, enquanto o projeto de pesquisa do qual faz parte se lança em um caminho de entrelaçar três manifestações distintas em uma só e, ao mesmo tempo, manter “cada linguagem com seu discurso”.

“É bem mais democrático”, afirma William sobre o processo de pesquisa no Laboratório do Centro Cultural Bom Jardim. Ao comparar a experiência de pesquisa no equipamento com as anteriores, como o TCC da sua graduação em Música, ele visualiza que a série de formatações exigidas pela academia “impossibilita muitas pessoas de desenvolver pesquisa por não conseguir se apropriar desses mecanismos”.

Para Isabela, o maior diferencial é o alcance da pesquisa. “A gente faz pesquisa para partilhar” e, durante os cinco meses de desenvolvimento, os grupos se reúnem para mostrar o que estão construindo e dividir um pouco de seus processos. Para William, o procedimento e o produto final são os grandes diferenciais, afinal, foi o que possibilitou a criação livre e experimental do grupo. 

Da “banalização da relação entre projeção e música”, que Grilo aponta como uma combinação saturada em shows de música, por exemplo, eles conseguiram inserir a tela enquanto dispositivo que molda o espaço e elaborar um modelo de expressão artística que eleva a potência da arte a partir da junção da força de três linguagens, interligando o melhor de cada pesquisador do Arrebol a partir da sensibilidade.

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