Quase oito anos, Francisca Sousa, de 69 anos, mora em uma casa localizada numa travessa do Granja Lisboa, um dos bairros que compreende o território do Grande Bom Jardim. As condições básicas como saneamento básico, energia elétrica ainda são precárias por lá. Em frente a um córrego, no chão batido de terra, quase ao final da travessa é localizada a casa de Dona Fransquinha, como é chamada. Lá moram ela, a filha Diva que lhe dá todo o suporte necessário aos cuidados necessários, dois cachorros: o Belo, a Pretinha, a gata Branca e um periquito que sempre chama “Fransquinha”, quando está com fome.
Quase uma década vivendo com o câncer
Na cozinha da casa, Fransquinha conta como foi essa fase, já quase completando sete décadas de vida. “Desse lado aqui, vimos uma bolha d’água, e eu pensava que era desse lado, mas o câncer estava do outro lado aqui, na mama e na axila. Ainda hoje essa bolha tá aqui”, conta ao mencionar que descobriu numa consulta de rotina no posto.
Conforme a dona de casa, o nódulo não era dolorido, não saia secreção, sendo a bolha d’água a única coisa que lhe chamou atenção para buscar o médico. Com o tempo, o bico do peito, em que se concentrava o nódulo, ficou retraído. Esses foram os “sinais” que Fransquinha percebeu junto aos médicos, antes do diagnóstico. Da consulta de rotina, no posto de saúde, até hoje, foi um percurso difícil. Com a desconfiança, Dona Fransquinha seguiu direto para os especialistas, realizou os exames específicos e recebeu o diagnóstico em agosto de 2019. Em outubro do ano passado, realizou a retirada da mama e em seguida, foi conduzida para quase 30 sessões de quimioterapia e radioterapia.
Ao saber do diagnóstico: “Foi tudo tão acelerado”
“Quando a gente recebeu o diagnóstico tudo foi acelerado, o bico do peito entrou, fiz a mamografia, biópsia, retirada da mama, tratamento. Fácil não foi! O tratamento pós cirúrgico foi muito difícil, eu desmaiei no banheiro, me sentia fraca. Fiquei carequinha, caiu tudo, mas olha aqui como está? Cresceu rápido hein e todo mechado, tem mais de um palmo de cabelo”, conta orgulhosa, tirando a fivela do cabelo e deixando os cabelos soltos”.
Ela revela que as sessões de quimio e radioterapia encerraram logo que iniciou a pandemia no Brasil, em fevereiro de 2020. “Ainda bem que deu tempo de terminar, já pensou em interromper meu tratamento no meio da pandemia?”, diz aliviada.
Que doença ‘desgramada’ é essa pois eu não sentia nada.
De fevereiro de 2020 para cá, os tratamentos continuam. As avaliações estão centradas na outra mama, onde tem a bolha d’água. No outro dia, da entrevista, Fransquinha iria fazer a biópsia da mama e iniciar as investigações. “Nesse meio tempo descobrimos um outro câncer, no fígado. Numa ressonância foi diagnosticada uma mancha e foi diagnosticado mais um nódulo no fígado. Hoje estou fazendo o tratamento em casa, com medicamentos e até agora por enquanto não será realizado nenhum tratamento mais invasivo. Eu não senti nada também no fígado, só soube através dos exames. Para controlar este câncer, eu tomo três comprimidos depois do almoço e mais três depois da janta, são seis por dia. É tudo muito silencioso. Que doença ‘desgramada’ é essa pois eu não sentia nada. Eu acordo cedo, vou aguar minhas plantinhas, lavo louças, roupas, faço comida, varro o quintal, costuro, sou muito ativa e não sentia nada”, relata.
De olho no câncer de mama: mãe e filha vencendo o câncer
A filha de Fransquinha estava ao lado dela, durante a entrevista também acrescentou sua experiência ao lado da mãe. “Eu tenho que me cuidar, já que ela tem né?! Nesse um ano eu me dedico a ela, mas agora com os tratamentos em casa, eu consegui ter tempo para cuidar de mim. Fui ao posto, peguei encaminhamento para a Maternidade Escola e estou à espera da mamografia para dezembro deste ano. Atualmente, tenho nódulos nas duas mamas, mas é benigno, mas eu tenho que ficar de olho né…todo ano, pois já tem ela com esse quadro, minha avó , a mãe dela também teve câncer no útero e foi a causa da sua morte, uma sobrinha também teve, enfim as mulheres da nossa família já tem um histórico e eu tenho que me cuidar”, complementa e alerta Diva Sousa Feitosa, filha de Fransquinha.
Mensagem de apoio às mulheres: o suporte da família é essencial
“Passou por tanta coisa na minha cabeça, foi um baque para mim e para minha família. Minha filha emagreceu de tanta preocupação, mas Jesus está comigo, tenho muita fé em Deus e eu sei que ele já deu minha cura, eu já me sinto curada. Aconselho a todas as mulheres irem ao médico, ninguém sabe o dia de amanhã, todo mundo tem que fazer os exames. Tem que se cuidar.
Façam o tratamento bem direitinho e busquem o apoio da família, como eu tive. Moro com esta filha, mas os outros moram perto, são seis no total e vários netos e um bisneto. Eles sempre vêm aqui, fazem campanhas de orações, me ajudam e me apoiam. Isso é muito importante para o tratamento dar certo. Hoje estou nas mãos do Senhor. ”, indica Fransquinha.
Novos projetos
“Durante esses meses passei a costurar na mão, além das coisas de casa. Faço colcha de cama de retalho feita na mão. Para mim e para meus familiares. Espera aí que eu vou pegar uma para você ver. Nesse tempo eu já fiz umas dez peças. É muita paciência viu, mas isso me ajuda”. Fransquinha diz que quer se curar do câncer de vez, pois tem projetos pela frente. “Quero continuar costurando, fazendo minhas coisinhas, quero arrumar minha casa, vou construir lá na frente uma sala, quarto e área. Na área, eu quero botar meu brechó, pois recebo muita doação de roupas e quero deixar exposto na frente da minha casa”, planeja Fransquinha. É isso aí, mais uma mulher de garra que vem passando pelo enfrentamento ao câncer e não deixa morrer os sonhos que habitam nela. Força na luta, você já é uma vencedora, Fransquinha.
“Se toca!”
É uma campanha de comunicação do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), equipamento da Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará (SECULT), gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Tem por objetivo propagar as narrativas das mulheres do território do Grande Bom Jardim, com diagnóstico de câncer de mama e alertar tantas outras mulheres, quanto aos cuidados em preventivos, por meio de suas histórias de vida.
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