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Centro Cultural Bom Jardim fomenta a pesquisa na periferia de Fortaleza

23/01/2025

Desde 2018, artistas e pesquisadores de Fortaleza têm no Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) um espaço de fomento à pesquisa em linguagens artísticas diversas. Em novembro de 2024, 31 pesquisadores partilharam os processos de investigação e imersão conduzidos durante cinco meses de pesquisa.

Na partilha final dos Laboratórios de Pesquisa, que ocorreu nos dias 26, 27 e 29 de novembro, os dez grupos selecionados dividiram seus processos de pesquisa. Alguns apresentaram produções artísticas realizadas durante o período, outros mostraram dados coletados e as conclusões a que chegaram.

Os projetos ficaram divididos entre cinco linguagens. São eles: “Da Cidade À Tela: Conhecendo Os Desenvolvedores De Jogos Em Fortaleza”, “Tabuleiros Equitativos: Promovendo Inclusão Nos Jogos”, “Contra-Matança: Saberes Anti-Coloniais”, “Monstruosidade Queer No Audiovisual Nordestino”, “O Que Eu Era Antes de Ser Humanidade?”, “Traços: Desenhando o Espaço-Tempo Em Rotas Originárias”, “A Musicalidade Ancestral do Povo De Terreiro”, “Cordéis Itinerantes Cantando e Contando Histórias”, “Invisíveis e Soterrados” e “Suor, Sol E Sal: Laboratório De Pesquisa Em Bicicleta”.  

Dança, música, teatro, audiovisual e arte digital e jogos são as linguagens contempladas nos Laboratórios de Pesquisa. Dois grupos ficaram encarregados por cada área pesquisada, acompanhados por um professor mediador. O eixo de pesquisa da Escola de Cultura e Artes tem como supervisor Diego Furtado, que assumiu o cargo em 2024.

“É um processo que, ao mesmo tempo que é desafiador, é também muito rico ter esse contato com pesquisas tão potentes, que trazem diversas temáticas […]”, diz Diego Furtado. O supervisor destaca a relação entre os temas de pesquisa e a metodologia empregada na Escola de Cultura e Artes. “É interessante saber como a galera traz esses elementos pra compor os seus processos de criação e de pesquisa artística”, conclui.

O supervisor dos Laboratórios de Pesquisa observa que, em 2024, os temas mais recorrentes eram relacionados à corporeidade e às ideias de memória e território. Quase todos os coletivos envolvidos no processo de pesquisa trabalharam esses conceitos. “São coisas em comum que possibilitam esse espaço de troca entre os coletivos e os laboratórios”, afirma Diego. Para ele, os elementos em comum viabilizam a construção de diálogos entre os grupos e podem trazer outras perspectivas de criação.

Conheça os Laboratórios de Pesquisa 2024

“Todos os projetos selecionados pra essa edição trazem uma potência muito grande”, declara Diego Furtado, supervisor dos Laboratórios de Pesquisa que atuava como assistente pedagógico até 2023. Entre os critérios de seleção dos dez projetos, estão a relação entre as pesquisas e o Grande Bom Jardim. O diálogo entre o território e os projetos, de algum modo, está presente nas pesquisas contempladas em 2024.

“Isso traz um elemento ainda mais forte pra potencializar a importância dessas pesquisas aqui com a gente e a gente poder acompanhar esse processo, de dialogar, de construir saberes com esses pesquisadores”, acrescenta Diego. Ele ressalta que o diálogo entre os projetos e o CCBJ, bem como o território onde o equipamento atua, é o diferencial dos selecionados de 2024.

Da Cidade À Tela: Conhecendo Os Desenvolvedores De Jogos Em Fortaleza

O projeto cunha o termo “Game Design Marginal”, que determina o design de jogos feito do povo para o povo. A partir disso, Matheus Rodrigo, Eric Costa e Giselle Paula Venâncio partiram para a observação material, levando em conta as condições de produção e desenvolvimento dos projetos. “Da Cidade À Tela: Conhecendo os Desenvolvedores de Jogos em Fortaleza” é uma continuação da provocação realizada no trabalho “EM BUSCA DO GAME DESIGN ‘MARGINAL’: POR UMA ESTÉTICA POPULAR NOS VIDEOGAMES”, publicado no IV Colóquio de Pesquisa em Design da UFC.

Tabuleiros Equitativos: Promovendo Inclusão Nos Jogos

Abelardo Junior, Ana Oliveira e Tony Rodrigues acreditam que os jogos podem desempenhar um papel fundamental na vida de todos os públicos enquanto ferramenta aliada à educação, promovendo imaginação e criatividade. Por isso, o projeto tem como objetivo sensibilizar as pessoas sobre acessibilidade em boardgames, ludotecas e outros espaços recreativos para pessoas com deficiência (PcD), por meio de entrevistas, observação em campo e pesquisa bibliográfica.

Contra-Matança: Saberes Anti-Coloniais

O projeto de pesquisa audiovisual visa o desenvolvimento do roteiro de um longa-metragem de ficção chamado Rosa Negra, de Késsia Nascimento. Além dela, Livia Thais e Thiago Campos são os outros integrantes do grupo. A proposta deles é investigar como a presença de mulheres em terreiros, que são historicamente lugares de disseminação de saberes anti-coloniais, atuam como ferramenta de enfrentamento a questões relacionadas à misoginia e à cultura do feminicídio no Ceará.

Monstruosidade Queer No Audiovisual Nordestino

O que move este projeto é buscar a monstruosidade queer nas obras audiovisuais contemporâneas e nordestinas e criar um catálogo com essas produções. Na contramão das narrativas criadas por homens cis, heterossexuais e brancos, que, acreditam os integrantes do grupo, desumanizam a comunidade LGBTQIA+, quando pessoas queer tomam conta da narrativa, a ideia de monstruosidade muda. Para Bento Ben Leite, Erika Miranda e Emily Guilherme, criar monstros queer é uma forma de ficcionalizar sobre a própria vida.

O Que Eu Era Antes de Ser Humanidade?

Inspirados nas reflexões de Ailton Krenak, Ishmael Rodrigues, Dave e Glória Dias propõem uma experimentação em dança que reflete sobre a relação entre humanidade e natureza. O projeto busca imaginar uma resposta para a seguinte pergunta: “o que éramos antes de ser humanidade?”

Traços: Desenhando o Espaço-Tempo Em Rotas Originárias

O projeto parte da informação de que o número de pessoas autodeclaradas indígenas no Censo IBGE de 2022 duplicou. Maryn, Raffar e Erick Flor consideram que as danças, as brincadeiras e os movimentos que atravessam nossos corpos na infância revelam a ancestralidade de maneira corporal.

A Musicalidade Ancestral do Povo de Terreiro

Pai Neto, Carla Vanessa e Pai Giuliano exploram a profundidade cultural e espiritual na música cantada e tocada nos ritos da Umbanda brasileira. Os pontos cantados são uma forma de conexão com as entidades, orixás e caboclos. Nesse projeto, os pesquisadores analisam como esses pontos refletem a cosmologia, os valores éticos e morais e os mitos que permeiam a Umbanda.

Cordéis Itinerantes Cantando e Contando Histórias

O resgate da memória por meio da composição de cordéis musicalizados é o objetivo central desse projeto. A partir dos relatos de moradores do Bom Jardim e de materiais publicados, como artigos, pesquisas e músicas, Mateus Honori, Pedro Anderson e Edson Oliveira aprofundam-se na música popular nordestina e conduzem experimentações com referência no repente e nos cantadores.

Invisíveis e Soterrados

Davi Reis, Rafael Abreu e Daniel Rufino abordam a construção de identidade e o pertencimento territorial em um experimento cênico que traça a historiografia do município de Irauçuba. O projeto busca o protagonismo de pessoas invisibilizadas pelo sistema político e econômico vigente e constrói o texto cênico e a dramaturgia a partir dos relatos dos moradores mais antigos da região.

Suor, Sol e Sal: Laboratório de Pesquisa em Bicicleta

Bicicleta como corpo-objeto-afetivo. Eliaquim Portela, Mikas, Gabriel Matos e Macla pesquisam os afetos que se geram com a vivência de quem cruza a cidade pedalando. Na linguagem do teatro, o projeto busca trabalhar sonoramente as referências musicais e de escrito-vivência da cidade de Fortaleza, que também têm a bicicleta como ponto de pesquisa.

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