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Transfestival 2024: Centro Cultural Bom Jardim celebra pessoas trans na segunda edição do festival

29/02/2024

“Pessoas trans ainda são as que mais são assassinadas dentro do nosso estado e do nosso país, homens e mulheres trans e travestis, por isso o Transfestival é tão importante, para enaltecer a vida e arte de pessoas T’s e N-B’s das periferias de Fortaleza e do estado do Ceará”, afirma Jô Costa. A cerimonialista e articuladora da segunda edição do Transfestival, realizado pelo Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), em parceria com os coletivos Gueto Queen e Polo Trans, pontua a importância do evento para a comunidade trans.

Em alusão ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado no dia 29 de janeiro, o CCBJ, equipamento da Rede Pública de Equipamentos da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult CE), gerido pelo Instituto Dragão do Mar, reuniu sete artistas trans, travestis e não-binários no último sábado, 23, em uma noite musical de celebração à diversidade.

Com cerimonial de Jô Costa e Stefany Mendes, respectivas coordenadoras dos coletivos Gueto Queen e Polo Trans, o festival teve início às 17h00, com o set de DJ PK. O repertório do artista contou com Roots Rock, Rocksteady e Dance Hall, ritmos comuns nos reggaes das praças de Fortaleza.

Na sequência, Stefany Mendes apresentou seu número de música e poesia, marcado pela canção “Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares, seguido do show de Otto. O músico abriu sua apresentação com a música “Baby 95”, de Liniker, e deu continuidade à apresentação com um repertório composto por canções de artistas T, na intenção de “falar de vivências, de afetos, mas não somente sobre o afeto romanticamente falando, afeto em modo geral e como essas corpas são atravessadas por ideologias e ações de uma sociedade binária”.

Depois do show de voz e violão de Otto, a banda WL subiu ao palco do CCBJ e tocou músicas de forró antigas, levando o público a dançar e cantar canções de sucesso nos vocais de Léo Oxente e Wallyson Amorim. Em seguida, vinda diretamente de Sobral, foi a vez de Moon Kenzo encantar o público com o show AMARGA, contando com um repertório predominantemente autoral, advindo do seu primeiro EP “CIO”. Em seu show, ela reúne narrativas que “conversam com as dores e prazeres de sermos nós, nós pessoas fora do espectro cisgênero”.

A DJ Angel History foi a sexta artista do line-up a subir ao palco. Ela tocou hits de funk e outros gêneros dançantes que animaram o público presente no equipamento. Antes de finalizar o set, ela também tocou músicas autorais, dando destaque à sua atuação como cantora. Ainda durante a apresentação da DJ, no centro da Praça Central do CCBJ, três integrantes do coletivo Fortalrettes reuniram o público em meia-lua e fizeram um número de dança eletrizante, contando com a colaboração musical de Angel History.

A última atração da noite ficou por conta da DJ Ellícia Maria, que busca experimentar a sonoridade afro-diaspórica em seu trabalho musical, além de desempenhar importante atuação política por compor a assessoria parlamentar na vereança da Coletiva Nossa Cara, na cidade de Fortaleza. 

Transfestival é expressão cultural e movimento político

A segunda edição do TransFestival foi vivenciada em dois momentos, o primeiro ocorreu no dia 27 de janeiro de 2024 e teve como programação os shows de Maw Trans e de Mumutante, com “Mutação Rara”, e ocorreram no Teatro Marcus Miranda. Já o segundo momento culminou em um evento que aconteceu na Praça Central do Centro Cultural Bom Jardim e contou com um line-up mais extenso, contemplando gostos musicais diversos.

“Eu acho histórico, memorável e de uma importância incomensurável. Ainda estamos no país que mais nos mata, nossa expectativa de vida ainda é curtíssima perto de tudo que merecemos viver”, diz Moon Kenzo, 26, sobre a existência de um festival que joga luz na luta pela visibilidade trans e valoriza artistas da comunidade. 

Enquanto artista e produtora cultural, Jô Costa compreende o Transfestival como uma iniciativa que está além do encontro cultural: “é um movimento político”. “O festival sempre foi uma necessidade”, observa, compreendendo o evento como uma iniciativa que possibilita a associação de pessoas T (transsexuais, travestis e outras identidades transitórias) a narrativas aquém à violência.

“Além do encontro e troca neste dia, também estamos demarcando nosso lugar, em um espaço geográfico onde tiveram casos de violência e de morte, proporcionando virar esse olhar da violência para a Arte que também é nossa!”, declara Jô Costa. E sua fala ressoa com os depoimentos de artistas como Otto, 26, e Moon Kenzo. 

“Acho que mais que mostrar meu trabalho que ainda é tão desconhecido no estado, a arte do encontro será o grande ponto de partida desse festival”, conta a cantora e compositora Moon Kenzo, que já havia se apresentado no CCBJ em 2022. 

“Enquanto um homem trans, cantor e músico, não vejo essa representatividade na cena musical tanto regional quanto nacional, e fazer parte dessa line ao lado de outros artistas T que eu acompanho tem um valor enorme por que somos potência e juntos somos bem mais fortes, eu estou abrindo caminhos”, diz Otto.

O músico encara a oportunidade de compor o line-up do festival como um meio de fazer com que sua voz “chegue em quem precisa ouvir”, considerando a periferia um espaço onde vivências parecidas com a sua existem. “Estar em um equipamento de cultura periférico é de extrema importância pois é na periferia que existem pessoas com grandes potências e com a vivência semelhante a minha”, reflete.

Assim como Otto, Moon Kenzo visualiza o festival como um momento oportuno para a troca com outros artistas. “Acho que mais que mostrar meu trabalho que ainda é tão desconhecido no estado, a arte do encontro será o grande ponto de partida desse festival”, conta, antes de apresentar-se no evento.

Em 2024, o Movimento de Visibilidade Trans no Brasil completou 20 anos de história. O Transfestival foi pensado pelos coletivos Gueto Queen e Polo Trans e pelo Centro Cultural Bom Jardim, instituição com a qual Stefany Mendes e Jô Costa já possuíam vínculo anterior como alunas e prestadoras de serviço, com o intuito de valorizar as identidades, estéticas e expressões artísticas de pessoas T, celebrando a data emblemática para pessoas trans, travestis e não-binárias.

A simbologia do festival para as pessoas envolvidas leva aos votos de Moon Kenzo e Otto pela longevidade do evento e para que mais artistas sejam contemplados em edições futuras. Para Jô, a expectativa é de que o movimento figure no calendário estadual, abrangendo mais pessoas e mais recursos financeiros. “Como todo ser que nasce, precisa crescer, e, para isso, precisa ser cuidado cada vez mais em todos os quesitos”, conclui.

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