“Pode entrar, mas espera um pouco que eu estava limpando a casa e vou me arrumar para nossa conversa”. Enquanto isso a equipe do CCBJ acompanhou parte da sua trajetória com outras mulheres, a partir de registros espalhados pela sala: retratos e um banner na entrada da sala, em que reunia alguns momentos importantes da sua jornada com as Vitoriosas, nome do projeto idealizado por Iracema, que apoia mulheres com câncer, no Parque Jerusalém (Grande Bom Jardim).
Ao encontro da equipe CCBJ, Iracema vem banhada e com um cheiro de rosas no ar, vem com um vestido de estampa indiana e máscara e tiara de cabelo rosa, combinando. Com muita disponibilidade em partilhar sua luta, Iracema, que mora há 25 anos no bairro, começa a relatar que por trabalhar na área da saúde sempre foi atenta quanto ao autoexame.
A vida antes do câncer
Ainda muito jovem, aos 18 anos Iracema foi ao médico por queixas de dores nas mamas, recebeu o diagnóstico de displasia. Realizou os tratamentos e relata ter esquecido de se cuidar, após esse fato. Na rotina dos hospitais, ela conta que teve uma vida muito agitada e com pouca qualidade, comendo fora de hora e refeições inadequadas, não fazia exercícios. Logo mais, aos 25 anos, foi mãe e isso interferiu no retorno das dores nas mamas. Continuava realizando os exames de rotina.
A notícia do diagnóstico
Confessa que deixou um ano sem realizar os exames e quando retornou ao médico, aos 44 anos, se deparou com o diagnóstico de câncer. “Um ano sem fazer exames e nesse período eu senti minha mama criando leite. Aqui acolá saia uma secreção clara e mais depois ficou escura. Eu pensei logo, seria impossível estar grávida pois já estava ligada. Pronto, procurei o médico. Bem, o médico disse que não era nada e eu confiei”, lembra.
Iracema diz ter procurado outros especialistas. Aos 45 foi diagnosticada com o câncer de mama. A partir daí começou a peregrinação de consultas, exames, resultados, sintomas diversos e muita determinação e resistência. “O ano era 2002. Fui muito bem amparada e prosseguir os cuidados. Retirei uma mama toda e ainda consegui a prótese. Foi tudo questão de dois meses, da desconfiança até a cirurgia, tudo por que eu corri atrás”
Iracema disse que quando chegou em casa abriu o jogo para família e disse: “Gente, deu câncer de mama! Eu me olhei no espelho e disse que eu posso! Senhor bota pessoas na minha vida que possam me ajudar, e botou seus anjos. Não foi fácil, mas tive o apoio da família, amigos e de uma equipe médica maravilhosa. Mas eu não fiquei pensando na doença, eu não sei te explicar, eu fiquei anestesiada. Eu pensei na solução. Daí comecei o tratamento, tomei seis sessões de quimioterapia, as da mais forte. Fiquei careca, mandei raspar pois é muito ruim quando começa a cair. Na época me chamavam de Ronaldinho (risos). Depois tomei os orais. Em 2005 foi detectado na outra mama. E eu disse que isso não iria me derrubar, me operei de novo, enfrentei tudo de novo. dessa vez não caiu meu cabelo. Fiz todo o tratamento de cabeça erguida. Mas tudo depende daqui”, diz ela apontando para a cabeça.
O primeiro tratamento foi de 2002 a 2007, sendo que em 2005 foi surpreendida por mais câncer na outra mama, seguiu se tratando até 2010. Hoje ela comemora 10 anos de curada e por isso se motiva a colaborar na superação do câncer com outras mulheres. Nesse período, de tratamento, Iracema já tinha um trabalho voluntário dentro da comunidade. “Será que eu vou poder continuar com esse trabalho?”, pensou ela ao enfrentar o câncer. O trabalho era com crianças e mulheres na Associação Parque Jerusalém. Tive um incentivo ainda mais, pois isso me ajudou muito, foi uma terapia maravilhosa. Das crianças passei a fazer com as mulheres e hoje tenho esse projeto das Vitoriosas. Cada uma que passou por aqui tem a missão de continuar esse trabalho”.
Mensagem de apoio às mulheres: “tem que se amar”
Iracema, uma vitoriosa faz uma alerta a todas mulheres. “ Vocês tem que se amar, se cuidar e se profissionalizar , buscar apoio da família. Não tive histórico na família, amamentei, mas tive uma vida corrida, bebia, fumava, sem exercício, tudo isso impactou né”. Emocionada, Iracema manda uma mensagem de incentivo às mulheres: “O outubro rosa é o ano todo. Cada caso é um caso, cada pessoa tem uma maneira de aceitar, mas é preciso “se tocar”, se tocar em se amar em primeiro lugar, se preocupa com filho, marido e outros e esquece da própria consulta. Eu pensei em mim e na minha saúde e fui enfrentar o câncer. Eu tô aqui vivendo, tô vencendo. A gente tem se fortalecido e as Vitoriosas fortalecem umas às outras, principalmente as que estão iniciando”.
Uma Vitoriosa que inspira e cuida de outras vitoriosas
Além da sua história pessoal com o câncer, Iracema é referência no bairro e perpassa outras trajetórias de superação, oferecendo sua colaboração em diversas articulações, dentre elas, participa de ações como:
- Conselho da Mulher do Estado do Ceará: Representante 2020 – Mulheres de Bairro;
- Conselho de Saúde: Representante a luta das mulheres com câncer, articulando as demandas entre o Posto de Saúde Regina Severino e a Regional V;
- Conselho da Mama da Secretaria de Saúde Municipal: Representante como Vitoriosa;
- Grupo Amigos do Peito (CRIO)
- Integrante do Grupo de Educação e Estudos Oncológicos – GEOON/UFC
- É voluntária no GEEON funciona como um Serviço de Referência para Diagnóstico em Mastologia (SDM) do Sistema Único de Saúde e como uma Extensão Universitária e Liga Acadêmica do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará;
- É parceira do CDVHS: realiza eventos, antes destinada às crianças e hoje, às mulheres, com as datas comemorativas do mês das mães e das mulheres, bem como ações em valorização da campanha outubro rosa. Manifesta sua eterna gratidão à Lúcia, responsável pelo CDVHS por toda parceria e apoio a sua luta em vários anos de movimento dentro do território;
E nessas lutas diárias em defesa das mulheres no enfrentamento contra o câncer e contra a violência, Iracema vem “fazendo o trabalho de formiguinha”, como ela destaca em sua fala.
“Se toca!”
É uma campanha de comunicação do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), equipamento da Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará (SECULT), gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Tem por objetivo propagar as narrativas das mulheres do território do Grande Bom Jardim, com diagnóstico de câncer de mama e alertar tantas outras mulheres, quanto aos cuidados em preventivos, por meio de suas histórias de vida.
1 Comentário
| Deixe um comentário »Deixe o seu comentário!