Samba da Vicença, espetáculo teatral recheado de musicalidade, conta a história de vida de Vicença Soledade, 64, uma mulher negra que vive no bairro Bom Jardim, em Fortaleza. O musical estreia no dia 02 de maio no Cineteatro São Luiz, sobe ao palco do local também no dia seguinte e chega ao Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) nos dias 10 e 11, às 19h. As quatro apresentações são gratuitas e contam com tradução e interpretação em Libras.
A direção geral do espetáculo é assinada por Cris Faustino e a direção musical leva o nome de Flávia Soledade, filha de Vicença. Contar a história da mulher que dá nome à peça é a ponte para retratar a realidade de muitas mulheres negras brasileiras. Nascida no Piauí, Vicença passou pelo Maranhão e chegou em Fortaleza em 1970. Ela estava entre as primeiras famílias a se estabelecer no bairro periférico onde reside até hoje.
A história de vida da protagonista, vivida por Doroteia Ferreira, é afetada pelo racismo, pela pobreza e pelo desemprego, mas também pelo samba. Por falta de condições financeiras, Vicença não podia viver sua paixão pelo samba, que, de acordo com ela, começou ainda na infância. A aproximação de Vicença com o samba só se deu quando Flávia Soledade se tornou musicista.
O ofício da filha possibilitou sua participação em blocos de carnaval como o “Doido É Tu!”, criado no CCBJ, e no grupo Criarte, formado por mulheres do Grande Bom Jardim. A espiritualidade por meio da Umbanda também entra em sua vida um meio de se conectar com sua negritude e está presente na narrativa dos palcos.
As questões que permeiam a história de Vicença Soledade estão inseridas no espetáculo, que discute violências raciais e de gênero ao mesmo tempo em que se utiliza de símbolos de resistência como o samba e as religiões de matriz africana para conferir protagonismo às mulheres negras. O objetivo do musical é homenagear uma mulher negra enquanto celebra a vida de todas elas, especialmente aquelas que estão no Nordeste do Brasil.
“Quero mostrar o poder nas coisas marginalizadas, o poder da mulher negra, da música de batuque, da alegria de um boteco, do orgulho de pertencer a um território e de ver beleza na vida sentada na calçada”, conta Flávia Soledade. Entre cantoras, instrumentistas, bailarinas e atrizes, o elenco de Samba da Vicença é composto por mais de 15 artistas.
“A proposta é apresentar, através da música, uma contação de histórias que diga para quem veio antes que seus esforços não foram em vão”, afirma a diretora musical. As músicas, componente central da narrativa, remetem à ancestralidade e conta com compositores como Kiko Dinucci, Chico Buarque, Janet Almeida e outros.
O repertório é composto por músicas como “Minha missão”, “Yayá Massemba”, “Senhora Liberdade”, “Oração ao tempo”, “Pra que discutir com madame”, entre outras canções que também contam a história de Vicença Soledade e que, conforme Flávia, mostram a força da música de batuque.
0 Comentários
| Deixe um comentário »Deixe o seu comentário!