O Nordeste sempre exportou para o país obras primas de cantoras e cantores consagrados, mas apesar disso, muitas formas de cantoria acabam negligenciadas ou esquecidas por não se encaixarem no contexto comercial. Unindo referências que vão de Alceu Valença a Ave Sangria, o projeto Psicodelia Nordestina trouxe para os Laboratórios de Pesquisa em Música 2022 uma investigação profunda do mundo dos cordéis, coletando registros de grandes nomes da cultura nordestina e culminando num momento ao vivo de performance musical que mostrou a essência da psicodelia nordestina aos olhos e ouvidos dos espectadores.

A pesquisa busca transformar em música cordéis autorais que contam a trajetória de uma filha de avó, pega para criar, tornou-se artista, rodeou-se de musicistas e vem mantendo viva a cultura de narrativa do cordel. Essa trajetória é recheada da música popular brasileira e sua pluralidade de ritmos, regiões e sentimentos. Movimentados pela paixão e pelo costume da palavra, o grupo vai de encontro à raiz, cantores de cordel, cantigas embaladas por instrumentos desde as cordas de violão até a rabeca de madeira de tronco, da ocarina ao pífano.

Elias Oliveira, um dos proponentes do projeto, conta que conheceu os LABS CCBJ através de amigos, inclusive participando de edições anteriores com outros projetos. Após conversas com Toryê Teixeira, escritora, cantora e compositora, e uma união posterior com João Vitor Queiroz, o trio decidiu pegar a ideia que nasceu do imaginário de Toryê e trazer para o universo musical. Psicodelia Nordestina é um estudo e faz uso das métricas, do ritmo e da forma de expressar que o cordel trás, cantando a realidade ao redor, de denúncia, alegria, raiva, romance, desconforto, configurando-se como uma arte de reação ao cotidiano.

Estudando cordéis para mais tarde traduzi-los em música, Elias conta que existe uma conexão clara entre a cultura nordestina e a periferia “estudar essa coisa psicodélica do sertão e do nordeste que também envolve a periferia, é até uma analogia que a gente tem que a periferia é o sertão da capital”, conta. Com entrevistas com ícones como Rodger Rogério, alguns cordelistas do Bom Jardim e visitas técnicas ao Mataquiri Museu em Cascavel. Com intenção de gravar um EP e produzir um podcast com as entrevistas realizadas durante o processo de pesquisa, Elias conta que “já é muito importante pra gente ter o registro de algumas pessoas que já estão muito velhas, que a gente não sabe até quando vão estar aqui pra gente ter essa fonte, pra gente poder chegar lá e perguntar ou então só falar ‘fala o que você quiser que a gente tá aqui pra lhe ouvir'”.

Na apresentação ao vivo produzida e apresentada durante o primeiro dia de partilha dos Laboratórios de Pesquisa 2022, a equipe convocou músicos pra compor o espetáculo. Entre eles, Leanderson que é baterista da banda Santos de uma Esquina, Gabriel, baixista da banda Gravatas Borboletas e Nicole, percussionista e estudante de música da UFC. Segundo Elias, o espetáculo foi direcionado por Luana Florentino, professora oficineira, trazendo informações cruciais para o grupo sobre como melhorar a música ao vivo, como fazer um figurino e construir um espetáculo coeso.

LABS CCBJ 2022

O Laboratório de Pesquisa é um dos eixos formativos do Centro Cultural Bom Jardim, equipamento da Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará (SECULT), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), por meio da sua Escola de Cultura e Artes, que propõe a experiência imersiva dedicada à pesquisa em Artes. Na sua edição de 2022, os LABS CCBJ terão vigência de 5 meses e contemplam 10 projetos cada um dos seguintes segmentos: Teatro, Dança, Música, Audiovisual e Cultura Digital. 

O CCBJ irá produzir materiais especiais de apresentação dos processos de pesquisa de cada um dos grupos que integram os LABS CCBJ 2022 até o final do ano, período em que ocorrerá os processos de partilha dos laboratórios com a comunidade. Acompanhe as publicações através do Instagram, Facebook e site do CCBJ.