“A gente tem tanta responsabilidade na vida da gente que, quando esse projeto tira um momento pra gente, é bom demais participar. A gente conversa, a gente acha graça, a gente se emociona […] Eu só tenho realmente que agradecer”, conta Maria Valdivania, conhecida como Bilinha, uma das participantes do grupo de mulheres, moradoras do Grande Bom Jardim, reunido pelo Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) sob a perspectiva de vivências na Economia Criativa Circular.
Por meio do seu Núcleo de Articulação Técnica Especializada (NArTE), o CCBJ tem proporcionado vivências coletivas desde julho de 2023 às 20 participantes do projeto Mulheres Criativas – fruto da atuação do equipamento na cidadania cultural – e estimulado o conhecimento crítico a partir de rodas de vivências, desenvolvidas a partir dos módulos pactuados com as próprias participantes, sendo realizadas conversas periódicas, seminários, oficinas, intercâmbio etc.
O grupo é conduzido pelo assistente social Henrique Lima e por Lara Santiago, estagiária de Serviço Social, contando com a colaboração de proponentes das Iniciativas de Desenvolvimento Comunitário e de alguns Agentes Criativos. “Está sendo incrível fazer essa troca durante o processo de vivências, cada momento é um aprendizado enriquecedor tendo percebido a participação efetiva, qualificado com um processo de readaptação, de acordo com as dinâmicas de trabalho da equipe”, relata Henrique.
A relação de coletividade, destacada pelo assistente social como um dos pontos fortes para a realização do projeto, é um dos grandes saldos positivos do “Mulheres Criativas”. Bilinha conta que a maioria das mulheres se conheciam, mas, hoje, a relação entre elas é outra: “todo mundo se conhecia de vista, mas não tinha aquele afeto, aquele sentimento uma com a outra”. Conforme define, elas só se conheceram de fato por meio das vivências no projeto.
O grupo foi formado durante o isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19, período marcado por graves impactos socioeconômicos, funcionando como uma forma de assistência por meio da doação de cestas básicas, garantindo a segurança alimentar das 90 famílias das crianças e jovens acompanhados pelo NArTE/CCBJ. O projeto, no entanto, cresceu e tem como um de seus objetivos a emancipação de suas participantes.
Bilinha, uma liderança no Grande Bom Jardim, constata a importância da iniciativa de distribuição de cestas básicas na sua vida à época da pandemia, mas demonstra gratidão ainda maior pelo agregamento de aprendizados e interações proporcionado pelo Mulheres Criativas, que, além das vivências, fornece ainda uma bolsa mensal para as participantes.
O Mulheres Criativas foi constituído com o propósito de impulsionar a intervenção local, vivenciar as práticas de segurança alimentar promovidas no Grande Bom Jardim e a economia criativa, incentivando o consumo sustentável e o controle financeiro de seus negócios e residências e articulando seus fazeres comunitários ao processo digital.
“Os objetivos do projeto foram traçados levando em consideração os perfis das mulheres que o formam, sendo elas mães, irmãs, tias, avós das crianças, adolescentes e jovens que acompanhamos experienciando as adversidades de chefiar suas famílias e residências na periferia”, afirma Henrique Lima, pontuando o espaço de referência na comunidade ocupado pelas mulheres que formam o projeto conduzido pelo assistente social.
Para Bilinha, uma das ações mais marcantes do projeto foi a visita ao Poço da Draga. Ela relata o encantamento com o lugar e com a comunidade e ressalta que muitas das componentes do grupo normalmente não teriam a oportunidade de estar em um dos cartões postais da capital do Ceará. “As aulas que eu mais gosto é quando vêm aqueles convidados falar sobre ser mulher e os direitos que a gente tem, que a gente pode estar em qualquer lugar e fazendo o que a gente quiser”, acrescenta à lista de atividades mais marcantes que vivencia por meio do programa.
A relação de Bilinha com o CCBJ, no entanto, não começa com o “Mulheres Criativas”. Seu primeiro contato com o equipamento foi por meio da maquete do espaço ainda em construção. Mãe de Ana Lia, uma jovem com deficiência, ela observava a filha ser excluída das brincadeiras com outras crianças. Como solução, passou a levá-la ao CCBJ, onde encontrou acolhimento e também passou a se envolver em atividades promovidas pelo espaço.
“Eu botei ela no balé e acabei fazendo as atividades, comecei na zumba e a gente foi indo, então ele [CCBJ] é muito importante. E, pra melhorar mais as coisas, eu ainda ‘tô’ nas Mulheres Criativas”.
“O nome do ‘curso’ é Mulheres Criativas, mas além de criativa a gente vai sair mais forte, determinada a lutar pelos direitos da gente, mais confiante… Mais feliz.”, afirma Valdivânia da Rocha, a Bilinha, fazendo votos pela prosperidade do futuro do projeto que, embora não tenha cunho formativo, ela considera o aprendizado tamanho que se refere ao programa como curso e às vivências e encontros como aulas.
Os critérios de participação do “Mulheres Criativas” envolvem vulnerabilidade socioeconômica, vínculo com o CCBJ/NArTE e proatividade. O projeto contempla mulheres entre 21 e 62 anos de idade, muitas delas não alfabetizadas e todas moradoras do Grande Bom Jardim, que estão registradas no Cadastro Único (CadÚnico) sendo beneficiárias do Bolsa Família ou estando em processo de concessão da assistência governamental.
As Mulheres Criativas são, ainda, as mães das crianças e jovens que frequentam o Centro Cultural, equipamento da Rede Pública de Equipamentos da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult CE), gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM), formando um ciclo de atendimento familiar no equipamento, com acesso às programações culturais e formativas e às oportunidades geradas pelo território do Grande Bom Jardim de modo geral.
O NArTE tem como diretriz de suas atividades o princípio da Cidadania Cultural da Secult e IDM, o desenvolvimento da prevenção das violações de direito e o fortalecimento dos Direitos Humanos no território do Grande Bom Jardim. Desde 2017, este setor do CCBJ assume a responsabilidade em responder o questionamento de como a arte e a cultura podem ser instrumentos de transformação social em um cenário de extrema vulnerabilidade.
Leia mais: Cidadania Cultural como pilar do Instituto Dragão do Mar e seus equipamentos
As Mulheres Criativas do CCBJ:
Antonia Fabiana das Neves
Antonia Rodrigues
Antonia Maria Souza
Ana Caroline da Silva
Alyne Gomes Braga
Clea Belo de Souza
Desiree Bezerra Trindade
Francisca Edissandra da Silva
Luana Monteiro
Lucia Helena Alves
Michele Kaylane Caetano
Maria Erica do Nascimento
Maria Gorete da Paixão
Maria do Socorro Frota
M. Elizangela da Paixão
Maria Joselina da Silva
Maria Imaculada dos Reis
Maria Valdivania da Rocha
Marciana do Nascimento Silva
Marcia Ferreira Castelo
Conheça o NArTE: Eixos de atuação do NArTE/CCBJ
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