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Artistas de Fortaleza consideram Centro Cultural Bom Jardim polo de projeção e criação artística

17/05/2024

O cancelamento das turnês de Ivete Sangalo e Ludmilla geraram discussões acaloradas nas redes sociais durante a última semana. A situação trouxe à tona algumas preocupações relacionadas a eventos e festivais de música independentes e menores do que as turnês superfaturadas. Na contramão desse cenário, artistas de Fortaleza pontuam a importância do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) como porta de entrada para o circuito cultural da cidade e para o fortalecimento de seus trabalhos.

Para manter e facilitar o seu processo de difusão e fruição artística, o CCBJ tem como uma de suas iniciativas a Solicitação de Pauta. A ferramenta, conduzida pela equipe de Produção Cultural do equipamento, consiste em um formulário que fica disponível durante todo o ano, no site do CCBJ, aos artistas e coletivos que desejam compor a programação do equipamento.

“O CCBJ disponibiliza essa infraestrutura pra criação de portfólio cedendo espaço para criação e execução de apresentações”, afirma Kipper Khan. O cantor e compositor se apresentou no Centro Cultural Bom Jardim pela primeira vez este ano, por meio da Solicitação de Pauta, e ressalta a importância do espaço para compor um portfólio e impulsionar a carreira. “Como um artista de somente 1 ano de carreira, a inscrição em editais e seleções se torna impossível sem um bom portfólio”, diz. 

Embora não disponibilize cachê, de acordo com a gerente da Ação Cultural do CCBJ, Fernanda Matias, o equipamento recebe uma média de 8 solicitações de pauta por mês. Caroline Holanda, artista cênica-instalativa, já é artista da casa. Tendo composto as solicitações de pauta do CCBJ algumas vezes, Caroline conta que costuma levar ao equipamento contrapartida de editais públicos.

Ela diz ainda que apresentar-se no CCBJ “possibilita outras contratações que podem acontecer no próprio CCBJ ou com o fato de me possibilitar ter uma obra construída, para seguir com  a produção de circulação dessa obra”. Seus últimos trabalhos levados ao equipamento foram  “Vagalumes”, “Vivência Niña: performance e mecatrônica” e “O Balão”.

Sessão do projeto Vagalumes, de Caroline Holanda, no Teatro Marcus Miranda (Foto: Mar Pereira)
Sessão do projeto Vagalumes, de Caroline Holanda, no Teatro Marcus Miranda (Foto: Mar Pereira)

Para a artista, que une arte e tecnologia, sua ligação com o Centro Cultural Bom Jardim se estende às experimentações artísticas, o que torna o espaço uma espécie de “residência de investigação”. Nesse sentido, a relação com o CCBJ se faz vantajosa, mesmo sem obter retorno financeiro, devido à “possibilidade de usar a estrutura necessária à criação no processo de construção da obra e não somente na apresentação” e à troca com outros artistas.

“O CCBJ, sempre que pode, viabiliza essa zona de investigação, o que o torna ainda mais um equipamento cultural de vanguarda em Fortaleza”, afirma. Caroline Holanda busca se fazer presente no espaço para além dos dias em que se apresenta, utilizando o CCBJ também para o processo criativo de suas produções, pensadas também a partir do espaço físico.

Além da exposição do trabalho ao público, os registros fotográficos e de vídeo disponibilizados pelo equipamento contam como fatores que fortalecem a projeção dos artistas. Samu, artista que colabora no single “Montilla e Coca-Cola”, de Kipper Khan, e que tem uma relação de longa data com o CCBJ, afirma: “a estrutura do espaço em si, dá todo um glow a mais até pra conteúdos, pra através disso, conseguir outras oportunidades”.

Kipper Khan no lançamento da música Montilla & Coca-Cola (Foto: Flávia Almeida)
Kipper Khan realizou show de pré-lançamento da música Montilla & Coca-Cola em maio (Foto: Flávia Almeida)

Quem atesta a afirmação é a atriz e intérprete-criadora Fátima Macedo. A artista, que recentemente levou ao equipamento a estreia do seu primeiro solo em dança, define a Solicitação de Pauta como uma “ferramenta democrática do uso do espaço”. Para ela, o CCBJ é um lugar onde “os artistas podem trazer suas pesquisas e experimentações, dispor de uma equipe solícita e de equipamentos para execução de seu trabalho, além de ter a possibilidade de ter registros fotográficos para portfólio”.

Fátima Macedo em 'As Mais Belas Coisas: Mistérios de Fim-Fim', espetáculo estreado em maio (Foto: Mar Pereira)
Fátima Macedo em ‘As Mais Belas Coisas: Mistérios de Fim-Fim’, espetáculo estreado em maio (Foto: Mar Pereira)

Centro Cultural Bom Jardim e democratização da cultura

“Percebo que nos outros aparelhos culturais da cidade existe uma grande burocracia para solicitação de pauta, exigência de documentos que nem todo artista iniciante possui ou saberia preencher”. A fala de Kipper Khan sublinha a importância da Solicitação de Pauta do CCBJ para artistas que, assim como ele, estão iniciando suas carreiras.

Segundo a produtora cultural Fernanda Matias, o papel da Solicitação de Pauta na democratização da cultura está atrelado à disponibilidade de estrutura, ao acesso a uma equipe técnica de apoio e à gratuidade da inscrição e ausência de limite de tempo para a submissão das solicitações, uma vez que a ferramenta fica disponível durante todo o ano.

“Não há pré-requisitos ou seleção por curadores, dessa forma, artistas que estão iniciando ou que querem movimentar seus trabalhos e fomentar seu currículo, pode ter essa possibilidade como uma oportunidade interessante”, diz Fátima Macedo. A artista já foi funcionária do CCBJ e escolheu o equipamento para apresentar o espetáculo infantil Mistérios de Fim-Fim como contrapartida de um edital no qual foi contemplada.

Como resposta do seu público-alvo, recebeu atenção e interesse das crianças frequentadoras do equipamento. Kipper também compartilha da experiência positiva com o público: “Já levei outras performances pra outros centros culturais e absolutamente ninguém apareceu pra prestigiar, então eu estava bem satisfeito em apenas ter um palco estruturado para registrar fotos e vídeos, mas ver a plateia gritando e aplaudindo, ouvir o aparelho de fumaça funcionando e as luzes piscando enquanto eu me apresentava, fizeram eu realmente me sentir um artista em potencial”, revela.

Fátima, assim como Samu e Kipper, acredita que o CCBJ pode funcionar como uma vitrine para os seus trabalhos. Por outro lado, Caroline Holanda pondera sobre a relação entre centro e periferia. “O centro não se desloca para ver meus trabalhos na periferia”, declara. Ainda assim, ela não chega a discordar da função de ‘vitrine artística’: “pra mim funciona muito bem com relação aos meus objetivos mais voltados à criação, investigação e ao público habitual do CCBJ. Nesse sentido, considero a melhor vitrine!”.

“O CCBJ tem uma divulgação incrível, mas a relação periferia-centro solicita uma intensificação que eu não estou disposta a oferecer porque o público frequentador do CCBJ é o que me interessa e é brilhante”, continua. Ainda sobre a visibilidade que o equipamento pode proporcionar, a artista torce pelo crescimento do equipamento em termos de verba, espaço, trabalhadores, estrutura e equipamentos.

“Se ele [o CCBJ] já é pura potência atualmente, imagina com condições ampliadas”, projeta Caroline. Kipper também manifesta o desejo de que o Centro Cultural Bom Jardim seja referência para toda a cidade por, entre outras razões, abrir “oportunidade pra quem enfrenta tantas portas fechadas”.

Samu é um exemplo disso. No CCBJ, ele viu seu projeto meu solo, o Acústico Br, sair do papel pela primeira vez. “Quando eu comecei a despertar interesse em me apresentar mais novinho, pré adolescente, mesmo sempre tendo grupos com meus amigos, nunca tínhamos oportunidades”, conta.

Samu no show de pré-lançamento da música feita em colaboração com Kipper (Foto: Flávia Almeida)
Samu na apresentação de pré-lançamento da música feita em colaboração com Kipper (Foto: Flávia Almeida)

Para Caroline Holanda, o CCBJ é um equipamento cultural que “fortalece a riqueza artística, de pesquisa e fruição na periferia, o que me interessa porque é minha zona de interesse de diálogo pela efervescência cultural e de vida que somos na periferia”. Para ela, esse fortalecimento ao seu trabalho se dá pela “perspectiva vanguardista de abrir o espaço a investigações” e pela inteligência com a qual a equipe do CCBJ realiza política pública, além do cuidado e disposição que diz receber da produção.

As apresentações artísticas que acontecem no Centro Cultural Bom Jardim, seja por meio da Solicitação de Pauta ou de chamadas públicas, fazem parte da atuação do equipamento na democratização da cultura e acontecem por meio de sua Ação Cultural. Para além das funções de difusão e fruição cultural e formação de público, o CCBJ conta com o Bússola Cultural, um serviço gratuito de assessoria técnica de projetos culturais, a fim de ampliar e facilitar o acesso a recursos voltados para o setor cultural.

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