A moradora há quase 16 anos do Conjunto Tatumundé, que integra o território do Grande Bom Jardim, Gleice Carvalho de Aquino, de 40 anos, compartilha sua história com o câncer de mama, descoberto em setembro de 2019. Desse período até hoje, quase um ano de luta, muitos desafios marcaram a vida de Gleice: o tratamento do câncer, o diagnóstico do coronavírus e o medo e ansiedade que deixaram como herança, o desemprego e a solidão.
Como soube do câncer: “É aqui está meio esquisito! Doía muito, mesmo sendo pequeno”
“Eu moro sozinha e conto com ajuda de vizinhos e alguns familiares para me ajudar no dia a dia, como ir no mercantil por exemplo. Eu não tenho histórico na família, descobri com o autoexame mesmo, em setembro de 2019. Eu suspeitava em junho, em exames de toque. Eu topava sempre numa coisinha pequena, mas não tinha certeza e pensava: É aqui está meio esquisito! Doía muito, mesmo sendo pequeno. Quando vi o diagnóstico estava com 2cm, muito pequeno né! Nessa época eu trabalhava muito de babá e tinha condições de pagar plano de saúde. Foi muito rápido, descobri em setembro, fiz todos os exames pré operatório, e em janeiro eu operei. Foi muito difícil a sensação, pois me vi sem poder tomar um copo d’água, por não conseguir levantar o copo até a boca. E em abril já comecei as quimioterapias. Mas então veio mais uma coisa. Ter um câncer não é fácil, imagine passar pelo câncer na pandemia e ainda ter sido contaminada pelo coronavírus? Foi muito difícil, está sendo difícil. A quimioterapia é extremamente difícil e ainda mais morando só. Tinha dias que eu chegava das sessões e eu não conseguia segurar um copo, de tão fraca tinha dias que eu não conseguia subir as escadas”, relata Gleice, bem emocionada ao conversar com a equipe CCBJ.
Da descoberta aos novos desafios diários entre eles o coronavírus
Gleice durante o tratamento quimioterápico ficou muito fraca e com o deslocamento necessário, durante o ápice da pandemia em Fortaleza, com as defesas do corpo em baixa, foi inevitável. “Peguei o coronavírus, não foi muito forte. Na segunda semana de idas ao hospital para as quimios eu fui diagnosticada e lá já fiquei internada. Os sintomas às vezes se misturavam, eu não sabia o que era da quimio e o que era do corona. Mas não era minha hora, eu consegui. A quimioterapia vermelha tem sintomas parecidos com os coronavírus, como dores de cabeça, moleza no corpo, febre entre outros. No total foram 16 sessões de quimioterapia, mas teve essa suspensão por causa do coronavírus. Fiquei sete dias internada e mais sete em casa de reclusão e com o tratamento suspenso, seguindo a quinzena de isolamento, só depois retomei as sessões presenciais. Hoje estou pelo INSS, e isso me deixa muito angustiada pois a renovação é todos os meses, e eu nunca sei se eles irão renovar mesmo, então em novembro eu tenho garantido, em dezembro eu já não sei. Por isso eu digo que vivo numa panela de pressão, por conta do câncer, do coronavírus e da incerteza de saber se vou receber ou não”, compartilha Gleice.
De onde vem a força para continuar?
Quando questionada de onde ela tira tanta força para vencer tantos desafios diários, com olhos marejados e a voz embargada é dito: “Essa força é de Deus, é inexplicável, ninguém explica Deus, eu só sinto. Eu vivo sozinha, tipo 80% da minha vida eu sou sozinha e se não fosse a fé e a força de Deus eu não conseguia, pois se dependesse de mim eu não conseguiria nem descer a escada. Mas Deus é tão bom. Eu cheguei em casa mais doente do que eu fui, pois voltei com anemia. Então, quando retornei para casa, senti que tinha mil quilos em cada perna, foi muito doloroso saber que eu não conseguia subir apenas um lance de escadas, por estar fraca. Minhas carnes tremiam. Tive uma grande amiga que me ajudou, bem como seus filhos, me ajudam até hoje”, relembra.
Gleice conta que sua vida hoje ainda tem resquícios do coronavírus, o receio de sair nas ruas. Ela revela que saiu de casa apenas para ir aos médicos, alguns vizinhos ajudam ir nos mercadinhos e farmácias para comprar algo, e não se sente segura nem para ir até a varanda do apartamento em que mora, ver a rua pela janela.
“Terminei o tratamento quimioterápico em setembro de 2020 e comecei um novo, o hormonoterapia, e pode durar de dois, cinco a dez anos. O médico disse que pode até ser dois anos. Ainda tenho uma rotina grande pela frente. Mas fico mais aliviada em saber que eu operei o tumor, retirei a mama, fiz reconstituição. O pior já passou, mas fico apreensiva.
Eu não fiquei tão mal com o câncer em si, com a operação e tal, mas a quimioterapia é mais desgastante. Foi um misto de sentimentos, eu vou fazer o que tiver de fazer, mas eu não sabia o que me esperava na quimioterapia, pois apesar de curar ela é muito agressiva. Hoje eu me apego a oração, já consegui ir para igreja, assisto os cultos on-line, isso me fortalece demais. Não tem ninguém que vá conseguir me fazer ficar bem, e a igreja, Jesus me reconstrói.
Daqui para frente
Ao falar dos seus projetos para breve, Gleice compartilha que sua prioridade é ficar bem para retomar a vida. “Eu tenho alguns projetos de viagens. (risos) É uma bobagem, mas eu sonho em ir para Jericoacoara que é bem aí, e eu nunca consegui ir ainda. Mas vai dá certo”. O CCBJ está na torcida por sua recuperação e vibra para que você consiga realizar seu sonho de viajar e conhecer novos lugares que preenchem teu ser e alimentem tua força.
Mensagem de apoio às mulheres: “No dia que tiver de chorar, chore. Você não é super herói”
“Eu desejo força as mulheres e peço que contem com os amigos e familiares, isso é muito importante. No dia que tiver de chorar, chore. Você não é super herói, então se tiver de chorar, faça. Reconheça seus limites e faça o autoexame sempre!”, indica Gleice a todos e todas em prol da prevenção do câncer.
“Se toca!”
É uma campanha de comunicação do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), equipamento da Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará (SECULT), gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Tem por objetivo propagar as narrativas das mulheres do território do Grande Bom Jardim, com diagnóstico de câncer de mama e alertar tantas outras mulheres, quanto aos cuidados em preventivos, por meio de suas histórias de vida.
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