“Exu te ama” estampou os muros do Centro Dragão do Mar de Arte (CDMAC) e Cultura e chamou a atenção de muitos olhos que passavam pelo centro da cidade. No dia 20 de setembro, a exposição “Festa, Baia, Gira, Cura” retornou ao seu território de origem, quando chegou ao Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ). O equipamento se despediu da exposição na segunda-feira, 25, com mais de mil visitantes.
Entre os 1017 visitantes, seis instituições passaram pela exposição de Jean dos Anjos. Escola Sonho de Criança, EEMTI Jociê Caminha de Menezes, EEMTI Senador Osires Pontes, Quintal Cultural Raimundo Vieira, Escola Santo Amaro e EEFM Almirante Tamandaré foram articulações externas que vieram ao equipamento conhecer a montagem do artista.
A exposição homenageia o terreiro Cabana do Preto Velho da Mata Escura, Ilê Asé Ojú Oya, de Pai Valdo de Iansã, localizado no Bom Jardim. “Festa, Baia, Gira, Cura” é fruto das pesquisas e observações do artista expositor com foco na festa da Rainha Pombagira Sete Encruzilhadas e Exu. Além das fotografias, a montagem reúne quadros e outros materiais que simbolizam rituais e festas de terreiro.
O evento de abertura e o lançamento do catálogo foram os principais destaques no período de dois meses da exposição no Centro Cultural Bom Jardim. A chegada da exposição trouxe ao equipamento o artista expositor, a curadora da exposição, Marília Oliveira, e a Secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela.
Festa, Baia, Gira, Cura no Bom Jardim e o poder da arte
Em “Festa Baia, Gira, Cura”, Jean dos Anjos tem como objetivo registrar a riqueza da cultura dos terreiros, a busca dos povos de terreiros pela preservação da memória da Umbanda e do Candomblé e a luta dos seus praticantes pelo fim do racismo religioso. Para Marília Oliveira, “Festa, Baia, Gira, Cura” é como um espaço sagrado.
Andrea Justino, monitora da exposição e residente do Grande Bom Jardim, conta que poucos jovens demonstraram receio ao se deparar com “Festa, Baia, Gira, Cura”. “A curiosidade logo superou qualquer resistência, e as crianças e adolescentes que visitaram a exposição com escolas e outras instituições estavam bastante engajados”, afirma.
De acordo com a monitora, muitas pessoas que não tinham muito conhecimento sobre os temas da exposição conseguiram se identificar com as histórias contadas ali. “Para muitos, a visita foi uma oportunidade de aprender, questionar e se aproximar de algo desconhecido, mas que, de algum modo, se relacionava com suas próprias experiências de vida”, diz Andrea. Entre os pouco mais de dois meses de exposição no CCBJ, alguns momentos a marcaram profundamente.
As crianças de terreiro que visitaram a exposição e se reconheciam nas obras fazem parte desses momentos. Eles logo exclamavam que eram parte daquilo. “A partir disso, surgiam conversas super legais sobre pertencimento e como é lindo se reconhecer na arte”, afirma Andrea Justino. Além das crianças, tinham os jovens que se identificavam com as representações dos Exus. Eles se viam na cor e nas histórias.
Entre os visitantes, uma senhora evangélica marcou a experiência de Andrea como monitora da exposição. Ela confessou não entender muito sobre o tema, mas se mostrou aberta a conhecer um pouco mais daquele universo religioso do qual ela não faz parte. “Aos poucos, ela foi tirando as dúvidas e, no final, olhou de novo pra exposição e falou: “Eu respeito isso tudo, é muito bonito.” Foi um momento cheio de aprendizado e respeito”, conta. “Esses momentos mostram como a arte pode conectar pessoas, abrir conversas e quebrar preconceitos”, conclui a monitora.
Assim como no CDMAC, a exposição foi dividida em quatro núcleos no CCBJ. Mas, em vez de “Exu te ama”, um dos muros do CCBJ faz referência a um ponto de Umbanda da entidade espiritual Pombagira. Em letras garrafais, está escrito “Arreda, homem, que chegou mulher”. A parede vermelha se destaca entre as verdes, mas foi na sala da multigaleria onde ficou a maior parte da exposição, com fotografias, oferendas, quadros, documentos, tecidos e outros materiais – inclusive a frase “Exu te ama”.
Três quadros estampam a lateral da sala da Cultura Digital e alguns tecidos repousam sobre as árvores do CCBJ. O equipamento, que agregou mais mil visitantes aos 25 mil que já haviam conhecido a exposição no CDMAC, ficou tomado pelos vestígios de “Festa, Baia, Gira, Cura”, fazendo jus à grande expressividade dos povos de terreiro em seu território e às raízes da própria exposição.
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